Os bons poemas
Eu não consigo escrever
os bons poemas.
Não encontro mais as palavras certas.
Não sei onde pôr as vírgulas,
nem os pontos.
Não sei o que devo conjugar.
Não sou o bastante para a poesia,
não sou suficiente
para a vida.
Meu caminho é torto.
Dedilho a melancolia e
ando como um cego
no meio da doce tristeza
de versos malditos
em infinita construção.
Me perco, tropeço,
desapareço em dimensões
que não foram feitas para
serem compreendidas
até tornar-me nada, além de pó.
Não consigo domar
os bons poemas.
Não tenho a habilidade.
Eles fazem o que querem.
Vão aonde desejam
e voltam quando menos espero.
Não mando neles,
eu apenas consigo enxergá-los,
como quando vejo teu
flamejante corpo nu
em nossa cama.
Os bons poemas
não me obedecem,
eu apenas consigo senti-los,
como quando me arrepio e
morro feliz
dentro de você.