Desejo
Ai que se eu pudesse ter-te
estranha e nua
e rasgar-te a carne
e penetrar em teu ventre
suado e vermelho
a dilacerar-me o corpo
verter em sangue
as unhas e o ventre ereto
abrir-te o seio
e ver-te a alma
e as terras de antes
ouvir-te os gritos
e os gemidos de dor
fome e ódio de um povo massacrado
ferir-te as coxas
com os dentes trincados
cansar-te o ouvido
com poemas eróticos
e versos sujos
e toda a história de uma gente sofrida
Esquecer minha boca
em todos os teus poros
buscar tuas feridas
e cicatrizá-las com minha língua em brasa
romper os pulsos e as veias
num abraço ensanguentado
e morrer