DEVORADORES DE POMARES
Céu ainda escuro
Madrugada passa lenta
Dia demora um pouco a nascer
Bem-te-vi desconfiado
Desfila no muro
Olha pra um e outro lado
Talvez pensando ser mais tarde
Dispara a fazer alarde
De todo canto o passaredo
Aparece no quintal
Cantando satisfeitos
Enquanto devoram o pomar
Não há briga nem disputa
Ignoram o espantalho,
Atacam cada galho
E nenhuma fruta resta inteira
O pomar é dividido
Nas jabuticabeiras os sabiás
Maritacas espalhafatosas
Dividem os maracujás
Canários afinando o canto
Ciscam e espalham sementes
Que num quarto crescente
Novamente vão brotar
Rolinhas saltitam nas goiabeiras
Figueiras sob os bicos dos pardais
Ouve-se gritos estridentes
“Lá tem mais” “lá tem mais”
Olho acima dos coqueiros
São periquitos em revoada
Avisando os passarinhos
Que no quintal ali pertinho
Há outro pomar pra devorar