POEMAS NOTURNOS E DE AUSÊNCIAS 7
Os místicos, os astrólogos
Poderiam dizer que é agosto
Mesmo sendo um julho perdido
Desencontrado.
De certa forma, os dias conservam o marasmo dos domingos.
É sempre domingo em mim.
Até os pássaros tem rido da minha sombra
Da penumbra do eu.
Não tenho deus, fé, santos.
Saudades: sortilégios da carne
A carne apodrecida pelos minutos, pelas cinzas das horas,
Pelos livros nunca lidos, pelo quarto vazio
Pelos germes em meu corpo,
Alimentando-se do meu âmago.
Não é agosto, os místicos são patéticos
Os astrólogos são falaciosos
Não me coloque cartas, bela cigana,
Não invoque magias ou seres fantásticos
Não é agosto.
É inverno, é chuva, é frio
A praça vai estar vazia
Não existe presenças
As palavras andam a se perder,
As esperas não trarão a pessoa e nem a palavra exata.
Só lamúrias desgraçadas.
Eu sobrevivo. Eu existo.
Transfigurado em nostalgias,
Sentado no fim da noite em uma lata de lixo no universo
Olho a terra.
Te vejo dentro de um quarto, cheio de livros,
Grito no meu silêncio
E te ouço dizer – mesmo que não me vejas –
: – A vida bate, meu amigo – sua voz extrapola a terra.
Você não pode me ouvir.
Você me sente em algum livro antigo?
Continuo deixando os germes adentrarem mim.
Não, não vou morrer.
Os astrólogos e os místicos pereceram de loucura
Acreditaram demais em magia, estrelas, signos, constelações,
Romantizam a existência sem se dar conta
de que em cada esquina a fome é mãe do mundo.
Seguem suas crendices cegamente,
Só tenho a terrível limitação de ser
Humano.
Anacrônico
Disperso
Tempo de morrer
Todos os dias, tempo de morrer
Suicídio lento
Que pode ser encontrado em um cigarro
Em uma droga.
A vida, em si, já se providenciou da morte.
Do alto das pedras perdi o medo.
Não morro,
Sou deslocado no tempo
Nostálgico: anacrônico
Qual teu tempo que nunca cheguei?