SABEM TUDO DE NÓS
Sabem tudo de nós, como regamos as plantas; o amarrar dos sapatos; que horas saímos à caminhar; o vinho preferido; saída do trabalho; medos e os sonhos.
Os desejos e vontades na cama. Pois sabem do externo, do corriqueiro, da fofoca ao capricho. Ao recôndito sou eu e mais ninguém, tu é sozinho em meio ao campo de batalha do seu eu. Foge da totalidade de definição, do esconderijo habitual...
Primórdios do obscuro ao sadio, da emoção das sutilezas, do canalha ao honesto: dentro de um há vários. A recordação acaba com gente assim, que descreve todos e não sabe que sabor escolhe do sorvete, que cor de blusa, que número do sapato é de verdade o correto... que música ouvir enquanto toma o banho.
O que salva é a perda de memória e os versos que ninguém nunca leu, nem lerá. Faz bem esconder-se um pouco mais hoje em dia, o que é mostrado não dão tanto prestígio assim. Deveras ser procurado do que achado... é questão de fraqueza ou ser o mais forte do bando. De nós, aliás, sabem pouco.