Eus

nas vielas tortas do meu peito aberto

entre meus pântanos e desertos

mergulhado num inevitável breu,

carrego a solitude de um "eu".

tornar-se "eu". atracar em novos portos

de olhos abertos, ouvidos dispostos

em busca dos meus porquês

minhas feridas expostas, minha nudez.

na dança entre permanente e passageiro

dentro do solo, na raiz

habita um estranho, um estrangeiro

um "eu", que se contradiz.

um "eu" de fibras, de nervos

de ossos e outros sonhos

tocado pelas cores que enfim vejo

como arpejos nas cordas do desejo.

um "eu" que não faz sentido algum

num jogo de luz e sombra sem fim.

depois do meu senso comum

há um "eu" que não eu; há eus para além de mim.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 19/06/2020
Reeditado em 19/06/2020
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