ÓPIO RETICENTE
ÓPIO RETICENTE
SANDRA RAVANINI
A janela abre a marca da solidão que me acompanha
e não há mistérios nem dragões guerreando nos luares,
nem mais infância remendando belos sonhos nos teares,
restando somente o bronze da fuligem que me banha.
Aberta à neblina entorpecida, este ópio reticente
vai banhando a lembrança duma doutrina sem espera,
profetizando amanhãs igual ao ontem se ora revela
a estátua empoeirada rindo à ceguidade que me vence.
E na vidraça reflete um sol vermelhecendo a lanha,
escarnecendo do tear infante enquanto a agulha insulta
a costura da imagem no espelho retalhado em culpa,
desfilando para a janela a derrota que me ganha.
A janela fecha o trecho e a sina desfiada emaranha
descortinando a vida em farrapos chorando no varal,
a desbotada gota escoando o que restou do festival
e da fantasia destruída na lembrança que me arranha.
17/09/2007
19H55