POEMAS DA MINHA INFÂNCIA
AVENTURAS DA INFÂNCIA
Eu saía pela Chã de Areia afora
Procurando um troféu, uma colmeia,
Não faltava uma aventura, uma ideia,
Na minha infância que relembro agora.
Pescar de jereré a qualquer hora,
Pegar um passarinho de alçapão;
Fazer de tábua e lata um caminhão,
Um carrinho de corrida e ir embora!
Tomar banho de rio e de cascata,
Ir caçar passarinho pela mata:
Armando uma arapuca pro nambu.
Fazer tudo que desse em nossa telha,
Esfumaçar a casa das abelhas
Pra colher o puro mel de uruçu!
RECORDAÇÕES DA INFÂNCIA
Buscar água escanchado num jumento
Conduzindo incuretas nos cambitos;
Ouvindo o som das vacas, dos cabritos,
Dos concriz que ecoavam pelo vento!...
Elegias que guardo no pensamento:
Ouvir a minha avó cantar benditos,
Ouvir de meu avô antigos ditos,
Anedotas e histórias de relento...
Fisgar peixes no açude ou lá no rio,
Tomar banho de chuva, sem ter frio...
Emoção que inda guardo. Indescritível...
Comer jaca no pé, manga e cajá,
Na fogueira assar milho com sinhá...
— Minha infância assim foi inesquecível!
UM POEMA TRAQUINO
Quero escrever um poema traquino,
Um poema repleto de esperança;
Um poema afoito feito um menino
Que aproveita bem o seu ser criança.
Quero escrever um poema traquino,
Um poema pleno de confiança;
Um poema que traga um grande ensino
Para quem só canta desesperança.
Quero escrever um poema animado,
Um poema/aventura, despreocupado
Com as coisas do mundo em desatino...
Quero escrever um poema peralta,
Que me faça lembrar, sentir a falta,
Do tempo em que eu era um simples menino.
NO CHÃO DA SAUDADE
Prossigo sereno revendo a história
No vasto terreno do chão da memória.
Tão cheio de grude, brincando no chão
De bola de gude, carrinho e pião.
Lá pego canário com meu alçapão,
Lá pesco piaba com meu jereré;
Facheio rolinha com meu lampião
E brinco de bola imitando Pelé!...
Lá faço brinquedos de tábua, de lata,
E sei tirar mel de abelha na mata!
Sou bem mais feliz — não posso negar...
Onde fica esse chão? em que tempo? espaço?
No chão da memória me perco e me acho...
— Chão da saudade da velha Pilar!...
DESCOBERTA DE UM NOVO MUNDO
Quando eu era pequeno,
ainda sem saber ler,
o meu passatempo preferido
era ver revistas e jornais.
Meu pai no campo
cuidando do gado,
minha mãe na cozinha
cuidando do almoço,
e eu em casa
de pernas pro ar,
fazendo de conta
que sabia ler.
Ficava horas
deitado no chão,
debruçado sobre as folhas
das revistas e dos jornais.
Meus irmãos ganhavam o campo,
a cassar passarinhos,
a pescar nos açudes
a subir nas árvores
para colherem jacas,
mangas e cajus maduros...
Mas o que eu gostava mesmo
era de ficar em casa,
contemplando aquela novidade
das páginas ilustradas,
das revistas e dos jornais,
deixados por um tio do Recife.
Olhava as figuras
e ria com elas,
Ficava encantado
com aquele mundo novo,
tão diferente das coisas do sítio.
Não imaginava
que naquilo tudo
já estava a minha identificação
com mundo da palavra escrita:
da prosa... e da poesia.
OS MEDOS DA MINHA INFÂNCIA
Medo do Bicho Papão,
Medo do Velho malara,
medo de raio e trovão
chovendo de madrugada!
Medo de cavalo-do-cão,
de cobra e de vaca brava;
Que medo de escuridão,
de casa malassombrada!
Medo do Velho do Saco,
caxite dentro do mato
e de cachorro doente!...
Que medo do Papa-Figo!
Medo de surra, castigo,
e medo de arrancar dente!
— Antonio Costta