RUA DA REDENÇÃO

Sem placas nem sinalização ela permanece

No fim da avenida

Na curva escura do bairro ermo

Na goela afogada

No abraço perdido

No desejo do que não existe mais

Na centelha de um fogo extinto

Na juventude tardia e na velhice precoce

Dentro do âmago do perdedor mais desesperado e no outdoor na avenida...

O que não existe mais

A lenda nunca pronunciada

Mas a cidade se fez e toca a lua

Com população e geografia

Com festividades e tradições

Aos recém chegados ficam os louros

E aos residentes o ônus...

Somos inúmeros e benevolentes

Esperando a chegada de um perdão incerto

Absorvemos a vontade passional, do fruto não semeado

Partimos numa jornada sem mapa ou sentido

Trafegamos por mares infestados de boas intenções mas permanecemos incólumes

Resignados em forma, conteúdo e apatia

Quando o vento soprar perderemos a face e a verve

Contudo a soberba estará intacta

Continuaremos peregrinos na trilha sem asfalto

Cada qual com um código

Cada alma com uma ferida

Implorando perdão

Sendo teimosa mesmo com as lanças a lhe trespassarem

Numa manhã de maio no inferno

Foi o vento minha inspiração?

Ou o medo de tudo que me sufoca até eu perder as palavras?

Quis a realidade me afrontar ou eu à ela?

Pergunta mais inútil não existe...

Na clareira da vida fui um forasteiro

Quase um indesejado

Gentilmente me indicaram a porta de saída

E eu nunca me fiz de rogado.

Caio Braga
Enviado por Caio Braga em 13/06/2020
Código do texto: T6975811
Classificação de conteúdo: seguro