RUA DA REDENÇÃO
Sem placas nem sinalização ela permanece
No fim da avenida
Na curva escura do bairro ermo
Na goela afogada
No abraço perdido
No desejo do que não existe mais
Na centelha de um fogo extinto
Na juventude tardia e na velhice precoce
Dentro do âmago do perdedor mais desesperado e no outdoor na avenida...
O que não existe mais
A lenda nunca pronunciada
Mas a cidade se fez e toca a lua
Com população e geografia
Com festividades e tradições
Aos recém chegados ficam os louros
E aos residentes o ônus...
Somos inúmeros e benevolentes
Esperando a chegada de um perdão incerto
Absorvemos a vontade passional, do fruto não semeado
Partimos numa jornada sem mapa ou sentido
Trafegamos por mares infestados de boas intenções mas permanecemos incólumes
Resignados em forma, conteúdo e apatia
Quando o vento soprar perderemos a face e a verve
Contudo a soberba estará intacta
Continuaremos peregrinos na trilha sem asfalto
Cada qual com um código
Cada alma com uma ferida
Implorando perdão
Sendo teimosa mesmo com as lanças a lhe trespassarem
Numa manhã de maio no inferno
Foi o vento minha inspiração?
Ou o medo de tudo que me sufoca até eu perder as palavras?
Quis a realidade me afrontar ou eu à ela?
Pergunta mais inútil não existe...
Na clareira da vida fui um forasteiro
Quase um indesejado
Gentilmente me indicaram a porta de saída
E eu nunca me fiz de rogado.