Sala-luz
Vejo a nave na tevê,
estática, longa e séria,
enquanto a criança atenta
do sofá criava a cena
bela como a vida pouca.
Estações e viagens longas
desses astronautas livres
entre planetas alados
que nos deixam baixos, pés
fincados, terráqueos roucos.
Brincar de astronauta lá
longe. Na sala a luzerna
da criança cresce esguia.
Será lançado o foguete
e me sinto humano, pasmo.
Vejo a nave na tevê.
O regresso não decola.
Partir além do azulado.
A contagem é de vida
desejosa, sangue tépido.
Gritos e braços erguidos.
Nesse momento sair.
Tripular espaços cósmicos,
só querendo ser o lance
brilhoso da sala-luz.
Ter a pueril alegria
de plástico ou faz de conta
da criança, do foguete
que subiu, na sala-luz,
a lágrima tão contida
na Terra enterrada e funda.