Sala-luz

Vejo a nave na tevê, 

estática, longa e séria,

enquanto a criança atenta 

do sofá criava a cena

bela como a vida pouca.

Estações e viagens longas

desses astronautas livres

entre planetas alados 

que nos deixam baixos, pés 

fincados, terráqueos roucos.

Brincar de astronauta lá 

longe. Na sala a luzerna 

da criança cresce esguia.

Será lançado o foguete 

e me sinto humano, pasmo.

Vejo a nave na tevê.

O regresso não decola.

Partir além do azulado.

A contagem é de vida

desejosa, sangue tépido.

Gritos e braços erguidos.

Nesse momento sair.

Tripular espaços cósmicos,

só querendo ser o lance 

brilhoso da sala-luz.

Ter a pueril alegria

de plástico ou faz de conta 

da criança, do foguete 

que subiu, na sala-luz, 

a lágrima tão contida 

na Terra enterrada e funda.

André SS
Enviado por André SS em 08/06/2020
Código do texto: T6971028
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.