Gaiola
Ligeiro passarinho,
bochechas rosadas, cabelo espetado.
Rebelde, belo, cauteloso.
Batendo contra as paredes da gaiola
feito prisioneiro inconformado vendo luzes brancas do sol
invadir a zona imóvel cheia de paixões e vidas
e desejos reprimidos.
As lágrimas irradiadas por seu bico
viajam em êxtase de libertação
com doce sabor de vento cobrindo a matéria antes do abraço
gravitacional – aprendi que quem voa antes da morte
voa para sempre.
Essas asas no teu corpo!
Peças inúteis que nunca farão concertos no céu.
Nunca é uma palavra forte, eu sei.
Há de haver um modo que acalente a existência modelada
no terror casuístico das formas,
há de haver um furo, uma brecha ou um fio solto que desdobre
os medos e desamparos em gama de caminhos leves
transluzindo aromas puritanos.
A verdade é que nos falta coragem
de encarar
frente a frente
a aflição de possuir pernas pétalas plumas pulmões
capazes de atravessar os desembarques da vida.
A terra é um bicho esquisito
com um monte de bichinhos esquisitos
dentro – enorme maçã
recheada por reinos inaptos.
Escape e descubra a obscuridade da situação.