------------------------

dezessete horas
dezessete milhões de dígitos
dezessete motos passando
dezessete mil gritos

dezessete mil moças, crianças
dezessete mil homens, e mulheres
berrando… na rua.

dezessete horas
com um pano preto
nos olhos…

"como se diz “estafa”
em braile?"


dezessete horas
depois… eu não removo
a barata morta no canto
da cozinha

dezessete mil formigas
trabalham em cima dela
enquanto uma aralha
uma por uma… as devora.

dezessete zilhões de
máscaras pretas, brancas
e eu ganho a rua,
feliz da minha vida

passeando
carregando comigo
uma torta de vegetais
só pra MIM…

dezessete horas depois
mas, sem reclamações
sem orações, apenas
aguardando a dor passar.

a casa é cheirosa
eu sou cheiroso também
e o piano começa… tudo
vai bem, muito bem, agora.

E o piano é a enxaqueca
de quem tem apenas vento
e merda… na cabeça e nos
ouvidos...

... não me importo com eles
(será?)

a barata ainda está lá…
quase nada. quase nada dela
quase nada, formigas
de bucho cheio
formigas em quarentena,

a aranha… a esperar.

… quando eu volto
a ficar sozinho
no meu mundo particular

e consigo ficar muito, muito
confortável com isso...

eu volto a ser
o "Deus de toda a
minha zorra”  ...
outra vez.