Romântica Incurável, Prazer
Será que alguém pode responder o seguinte:
Quem se atreve a ser romântico em 2020?
Tempos de futilidade
Tempos de putaria
Ninguém diz o que sente de verdade
Por que eu me atreveria?
Antiquado, esquisito, cômico, brega:
O covarde zomba do que não nega
Daquele que, vestido de coragem, assume o amor
Já não se cultiva mais bons sentimentos
Apenas futilidades e distanciamento
Exaltam quem enaltece indiferença e desprezo
Incoerente, por mais que seja coeso:
Riem dos que oferecem flor
Dizer eu te amo não causa mais fervor
Hoje dizem para iludir, para brincar ou pior
E, quando de coração é dito,
Fazem pouco caso do seu amor
As coisas belas, pouco a pouco, perdem valor
Ser humano bendito:
Cada dia se torna pior
Vazio, se enche com bebidas, drogas e pegação
Como se usar tantas coisas fúteis
Fosse amenizar a dor das tentativas inúteis
De preencher o vazio de um coração
Eu, romântica incurável, observo de fora
Vendo a beleza se perder
Com essa geração de hoje que só quer ferver
E o romantismo indo embora
Mas tal como sou:
Uma gota, querendo fazer diferença num oceano
Valorizando o que se torna obsoleto ano após ano
Escrevo cartas, faço supresas e também poesias,
Gosto de flores, serenatas e mensagens de bom dia
Gestos de carinho e amor que o coração sonhou
Cadê as cartas e os bilhetinhos
Rapazes pescando em festas para pegarem ursinhos
Ninguém mais manda chocolate? Faz declaração?
Ninguém mais passa e deixa flores?
Ao que parece, os que passam hoje, só deixam dores
Tempos de seca: faltam chuvas de abraços e carinho
Tempos de frio: falta calor para o gélido coração
Algo tão lindo foi associado com mentira, ilusão e dor
Ah! Que pena!
Parece uma causa pequena
Mas estão acabando com o sentido do amor
Se eu, romântica incurável, pudesse dar um conselho
Ou mesmo meter o bedelho,
Diria: mesmo com medo, vá atrás
Fale que viver com saudade não dá mais
Vá no aeroporto, na rodoviária, na estação de metrô
Grite... peça: fica comigo, mô
Grite pro mundo, faça declaração
Faça serenata: um desafinado e o violão
Mande música, escreva carta e/ou poesia
E a quem diz que não é pra você o que existiu um dia
Responda que se sem amar você morrer
Foi um desafortunado: não fez valer à pena seu viver
Romântica incurável, prazer
Só não é prazeroso ser romântico e viver
Em tempos de extinção do cavalheirismo
Tempos em que o romantismo
Começa a desfalecer