PARADISE
Retornei a lugares comuns
Onde foi consumida a minha infância,
Visitei velhos companheiros
Hoje gordos e modorrentos,
A cal do tempo a tingir-lhes os cabelos.
Vaguei pela noite
Entre becos e vielas da favela
De um Vietnã esquecido.
Gritei o meu nome, o meu apelido,
Para encontrar no eco
A resposta de uma vida remota.
Procurei em cada esquina
Um instantâneo da minha mocidade,
Eu estava em busca
Do paraíso da juventude eterna
E fiquei estarrecido
Ao perceber que tudo havia mudado.
O menino barrigudo de fraldas encardidas,
Não mais existia.
Hoje ele é um policial.
É alto, forte e usa bigode.
Outros são profissionais liberais,
Outros morreram na marginalidade.
Aquela menina recém-nascida
Que tantas vezes coloquei no colo
E que me molhava com sua urina quente,
Não mais existe,
Agora ela é mãe.
Minha filha cresceu.
Ela é uma moça
E até me apresenta o namorado.
O que fazer? Nada posso fazer.
De repente descobri
Que já não sou mais o mesmo,
Que esta busca é inútil,
Que ainda não sou velho,
Mas que não sou mais tão jovem.
Descobri, porém,
Que o paraíso que procuro
Está dentro de mim,
Em meu ego,
Está dentro do meu lar
Ao lado dos meus filhos
E da mulher que amo.