PARADISE

Retornei a lugares comuns

Onde foi consumida a minha infância,

Visitei velhos companheiros

Hoje gordos e modorrentos,

A cal do tempo a tingir-lhes os cabelos.

Vaguei pela noite

Entre becos e vielas da favela

De um Vietnã esquecido.

Gritei o meu nome, o meu apelido,

Para encontrar no eco

A resposta de uma vida remota.

Procurei em cada esquina

Um instantâneo da minha mocidade,

Eu estava em busca

Do paraíso da juventude eterna

E fiquei estarrecido

Ao perceber que tudo havia mudado.

O menino barrigudo de fraldas encardidas,

Não mais existia.

Hoje ele é um policial.

É alto, forte e usa bigode.

Outros são profissionais liberais,

Outros morreram na marginalidade.

Aquela menina recém-nascida

Que tantas vezes coloquei no colo

E que me molhava com sua urina quente,

Não mais existe,

Agora ela é mãe.

Minha filha cresceu.

Ela é uma moça

E até me apresenta o namorado.

O que fazer? Nada posso fazer.

De repente descobri

Que já não sou mais o mesmo,

Que esta busca é inútil,

Que ainda não sou velho,

Mas que não sou mais tão jovem.

Descobri, porém,

Que o paraíso que procuro

Está dentro de mim,

Em meu ego,

Está dentro do meu lar

Ao lado dos meus filhos

E da mulher que amo.

Gonzaga Filho
Enviado por Gonzaga Filho em 29/05/2020
Código do texto: T6962154
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