O nascer de outro inverno.
Hoje tá chovendo tanto
que tudo tá encolhido
os bredos estão pesados
todo fruto tá caído
a vontade tá sem brio
a coragem sente frio
o medo se encolheu
é tanta água caindo
que eu sinto está vindo
inundar todo o meu eu.
O trovão está roncando
fazendo eco nas grotas
enfurecidos lampejos
fungam nas brechas das portas
estremecem os barreiros
e os barrancos rasteiros
viram lama colorada
na ladeira dos amores
descem afetos e dores
juntos numa enxurrada.
As baronesas pendentes
cajaranas já em bolhas
deslizando pelos galhos
umidecendo as folhas
um veio fino derrama
uma lágrima na rama
da chuva desconsolada
qual a viúva que chora
que pede e que implora
pra voltar a ser casada.
Aqui tá chovendo tanto
que tudo escureceu
a terra por sentir sede
toda a chuva bebeu
porem na alta chapada
uma nuvem amojada
pariu um rebento terno
a natureza então se curva
abrindo as pernas da chuva
pra nascer outro inverno.