O nascer de outro inverno.

Hoje tá chovendo tanto

que tudo tá encolhido

os bredos estão pesados

todo fruto tá caído

a vontade tá sem brio

a coragem sente frio

o medo se encolheu

é tanta água caindo

que eu sinto está vindo

inundar todo o meu eu.

O trovão está roncando

fazendo eco nas grotas

enfurecidos lampejos

fungam nas brechas das portas

estremecem os barreiros

e os barrancos rasteiros

viram lama colorada

na ladeira dos amores

descem afetos e dores

juntos numa enxurrada.

As baronesas pendentes

cajaranas já em bolhas

deslizando pelos galhos

umidecendo as folhas

um veio fino derrama

uma lágrima na rama

da chuva desconsolada

qual a viúva que chora

que pede e que implora

pra voltar a ser casada.

Aqui tá chovendo tanto

que tudo escureceu

a terra por sentir sede

toda a chuva bebeu

porem na alta chapada

uma nuvem amojada

pariu um rebento terno

a natureza então se curva

abrindo as pernas da chuva

pra nascer outro inverno.

Ebenézer Lopes
Enviado por Ebenézer Lopes em 28/05/2020
Reeditado em 28/05/2020
Código do texto: T6960968
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.