Coisas Intocáveis | André Gomes
Pela manhã, canta um galo digital
O sol reluz numa alameda infinita
Café com leite numa xícara quebrada
Da sacada também vejo a rua inabitável
Uma porta velha trancada com um cadeado
Dentro existe uma piscina em desuso
Refletindo a plantação abandonada
Uma criança sorrindo com bolhas de sabão
Em frente de um quadro de bela imagem
Uma ponte que faz chegar num zoológico
De rosas mal cuidadas e baldias
Chegando à beira do lago, cena de piquenique:
Pães, frutas e vinho abençoados.
Por uma oração e um girassol bem amarelo
Duas pessoas satisfeita de mãos dadas
Perdidas por entre o vão da cidade
Que no passado construíam castelos de areia
Que agora à beira da praia, tantos réveillons...
Com as mãos murchas lavando os pratos
Enxugando os pés numa toalha branca
E o colorido a estourar no poder da memória
Na gravura do tempo o poder da ciência
Mil experiências coloridas em vidros intocáveis
Que o resultado é uma cor que não existe
Que guardaram num lugar seguro e gelado
A luz não resiste a escuridão da evolução
Com esforço, faz sombra na ampulheta que marca mas, não vê passar o tempo
Nos fazendo saber que mais um ano findará
Árvores coloridas, mesa com comida, diplomas e formaturas
Passando nossas vidas com vitórias e agruras
É mágico o tapete do tempo pendurado no armário.
Uma roupa, uma gravata. A porta colada nos retratos
Dos enfeites, perfumes, convites revelados no álbum
De um mundo tão pequeno e valioso
Prendendo nossa história no relógio do calendário
André Gomes
Entre, o Que Pareço SER? ©️ 2020
O que não se vê
Tá aí
Como tudo o que há
Djavan
https://www.youtube.com/watch?v=SODllezWbsM