OPERÁRIO DA PALAVRA
da palavra extraio o pão
às vezes sou um rude lavrador
que sacia apenas a fome da ceifa
outras horas sou um maquiador de defuntos
que remove o bolor do cadáver
para torna-lo comovente ao olho dos convidados
fora da safra a palavra é seca
não oferece nenhum vão
pelo osso do ofício
mutilo a carne do poema
e para não ficar constrangido
distraio-me com farelo de lira
corto o dom e a inspiração
das palavras que não empilho no texto
nasce meu poema
rimado com mil silêncios de protesto
sou artesão que trabalha o barro alheio