OPERÁRIO DA PALAVRA

da palavra extraio o pão

às vezes sou um rude lavrador

que sacia apenas a fome da ceifa

outras horas sou um maquiador de defuntos

que remove o bolor do cadáver

para torna-lo comovente ao olho dos convidados

fora da safra a palavra é seca

não oferece nenhum vão

pelo osso do ofício

mutilo a carne do poema

e para não ficar constrangido

distraio-me com farelo de lira

corto o dom e a inspiração

das palavras que não empilho no texto

nasce meu poema

rimado com mil silêncios de protesto

sou artesão que trabalha o barro alheio

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 28/05/2020
Reeditado em 28/05/2020
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