Céu
breu de azul anil. estrelas mil.
estrelas: milhões? bilhões?!
pouco importa.
na fantasia da contemplação
a ordem das grandezas se dissolve.
absorto em meu universo,
refugio-me à sombra de uma galáxia
na curva de um planeta habitado
por seres que desconheço.
o céu me envolve e me atravessa
eu, mais um milésimo indistinto,
um átomo, indivisível,
no grande plano dos astros.
gravidade às avessas:
o céu puxa meu olhar
para o acima, distante.
minha boca, entreaberta
é engolida pela boca da noite
num beijo assimétrico.
o céu me arrasta e me arrebata
em sua nuvem de poeira cósmica.
absorvo as constelações,
suas sutilezas, entrelinhas.
maravilhado, aterrorizado, sereno —
não sou capaz de isolar o que sinto.
harmonia aparente ou caos oculto?
se ao menos pudesse compreender
o que escuridão diz através do silêncio...
frente ao mistério do firmamento
entrego-me ao seu buraco negro.
e na fresta de um flerte secreto
o céu e eu somos um mesmo corpo.