Céu

breu de azul anil. estrelas mil.

estrelas: milhões? bilhões?!

pouco importa.

na fantasia da contemplação

a ordem das grandezas se dissolve.

absorto em meu universo,

refugio-me à sombra de uma galáxia

na curva de um planeta habitado

por seres que desconheço.

o céu me envolve e me atravessa

eu, mais um milésimo indistinto,

um átomo, indivisível,

no grande plano dos astros.

gravidade às avessas:

o céu puxa meu olhar

para o acima, distante.

minha boca, entreaberta

é engolida pela boca da noite

num beijo assimétrico.

o céu me arrasta e me arrebata

em sua nuvem de poeira cósmica.

absorvo as constelações,

suas sutilezas, entrelinhas.

maravilhado, aterrorizado, sereno —

não sou capaz de isolar o que sinto.

harmonia aparente ou caos oculto?

se ao menos pudesse compreender

o que escuridão diz através do silêncio...

frente ao mistério do firmamento

entrego-me ao seu buraco negro.

e na fresta de um flerte secreto

o céu e eu somos um mesmo corpo.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 27/05/2020
Reeditado em 29/09/2021
Código do texto: T6959793
Classificação de conteúdo: seguro