Não devia, mas queria
Queria que doesse em você,
como dói em mim
Queria que ficasse diante do abismo,
aquele que você deixou.
E partiu.
Queria te contar.
Da vida que anda dura.
Da escassez de afeto.
Do tombo que levei.
Dos meus novos escapismos.
Queria te mostrar as fotos
do ensaio sensual que fiz
E da delícia que foi me enxergar nelas.
Os textos que escrevi pra você
Como quem retira palavras das entranhas.
Queria te ouvir dizer,
com brilho nos olhos
Do que te encanta.
Daquilo que ama.
Do impulso que te faz viver.
Queria te tocar.
Percorrer teu corpo-universo.
E mapear como ele reagiria ao meu toque.
Queria um segundo do teu abraço.
E poder me desarmar.
Só deixar acontecer.
Queria te ver de camiseta cinza.
Jogado no sofá da sala.
Com uma taça de vinho na mão.
Sem medo de ser.
Queria contemplar o teu gozo
Seguido do seu riso frouxo
Que é coisa linda de se ver
Queria ao menos sua amizade
Pra compartilhar a vida boa com você.
Queria que soubesse,
o quanto é disfuncional.
Eu ainda te querer.
Quanto a isso,
não tenho muito a dizer.
Eu queria, mas ouço ecoar:
"Não ficaram arestas, Mari."
Frase que estampei no papel de parede do meu celular.
Pra não esquecer.
Pra saber do que você quer.
E no fundo, eu sei.
Só preciso escrever
Do que sinto
Do que quero
Pra tentar me ter de volta outra vez.
E sentir ameno.
Sentir tranquilo.
Não devia,
mas confesso que queria.