Sou Um Poeta! E agora?
Quando se pensa ou se fala de um poeta,
não se fala o que se pensa.
Geralmente ele é tido como um tipo
sombrio, de olhar triste e distante.
Em outras palavras, quer dizer,
pensamentos, o poeta é um sujeito meio
“bocó”.
Para alguns, o poeta é um aluado que
acredita em uma realidade que não vive,
e vive uma realidade em que não acredita;
um alienado.
Normalmente a imagem do poeta é de
alguém amante das flores, dos pássaros,
que busca inspiração ao sabor da brisa à beira
de uma praia qualquer, fitando o mar até
o limite do horizonte.
Alguém incapaz de maquinar um
“inseticídio”.
O nome “poeta” designa
automaticamente quem o leva, um
amante da paz.
Para outros ele é um sentimentalista
paranóico, que "masoquistamente" anela
pelas lágrimas.
Saudosista inveterado que
proclama a angústia dos apaixonados
como um canto de vitória.
Para ele – pensam e não dizem eles do
poeta – as flores são sempre cheia de
espinhos, o céu está sempre cinzento, há
sempre alguém sofrendo.
A vitória do amor é sempre
encenada em palco de lamentações.
Ainda há aqueles que ligam a figura do
poeta a um frustrado revolucionário.
Sempre usando a pena
sarcasticamente contra o sistema, contra
tudo e contra todos.
Nada o satisfaz.
Nada o conforta.
A grande maioria vê no poeta alguém
com uma sensibilidade espiritual
apurada... contemplativo.
O ser que parece ter contato com o mundo além.
Um desligado.
O apaixonado das letras e dos versos é
um sujeito meio difícil de entender
realmente.
Mas alguém já questionou o
por que do poeta ser tal qual um poeta?
Como não se entristecer com o descaso
e a injustiça?
Será que a tristeza do poeta não está
vinculada à alegria hipócrita do
“cidadão normal”?
Sim, às vezes, o poeta passa por “bocó”,
mas íntegro, que não ensaia sentimentos
teatrais.
Ninguém pode negar a autenticidade do
poeta.
O olhar distante do poeta talvez esteja
em busca de um mundo mais justo.
A tristeza do seu olhar é de tanto ver
fome, miséria, violência.
O poeta sofre em testemunhar
esse jogo corrupto de
relacionamentos interesseiros fomentados por aqueles
que aparentemente estão alegres, porém, não passam de uma casca frágil,
denunciada por seus olhares arredios.
A diferença é que o poeta tem coragem de dizer
que é humano.
Não, o poeta não é um alienado fugitivo
que se esconde em um mundo particular.
O poeta acredita na realidade,
mas não nessa
caricatura que se apresenta sol a sol.
Porque ele sabe que por detrás desta, que
é ensaiada, está à verdadeira, onde os
mais ousado tem a coragem de
garimpar e descobrir as riquezas da vida.
Sim, o poeta é um amante da paz.
A paz ausente no mundo e fora do
coração do homem.
Há “guerras e rumores de guerra”.
Há guerra nas famílias destruindo e
dividindo.
Há batalhas hediondas no jogo do poder.
Mas o conflito que mais tem vitimado e
ceifado vidas são as guerras silenciosas
no espírito do ser humano.
“O injusto não tem paz”
mas o poeta, ele conhece a paz!
É em meio a este conflito auto destrutivo
onde o inimigo do homem é o
próprio homem que o poeta apregoa a
paz e proclama a vida.
Porque as vítimas desta guerra estão
mortas pensando que estão vivas.
Acreditar e viver o amor se tornou
paranóia?
Então é por isso que o mundo está
cheio de pessoas normais, falta-lhe a
paranóia do amor.
Diante desta normalidade do mundo –
ou será insensibilidade? – amar é
realmente sofrer.
E o poeta sofre porque ama.
Porque quem ama chora a dor do desamor.
Angustia-se em testemunhar esta
sublimidade de sentimento
se transformar em objeto barato de
consumo, a própria negação do seu
sentido.
O poeta, em prantos, testemunha a
apologia do ódio, e de todos os
sentimentos que lhe são derivados
contagiar como um vírus maligno os
corações dos desatentos.
Não lhe cabe melhor adjetivo do que
amante das flores.
Porque aquele que têm sua
sensibilidade atraída para o
desabrochar das flores são amantes do
belo, do singelo e do divino.
É aquele que em meio de tantos amores
profanos, dirige sua atenção para a
manifestação graciosa do poder criador
de Deus.
Sim, o poeta olha para as flores e as
ama.
Para onde o mundo tem olhado?
Os pássaros simbolizam liberdade e, ao
observá-los, o poeta é capaz de
acompanhá-los nesta viagem de clara
independência.
O poeta deslumbra-se com tal
possibilidade porque ele sabe que há
muitas “viagens” sem volta,
muitos destinos incertos,
pessoas que não
conseguem alçar maiores alturas para
sua própria liberdade porque são
prisioneiras de si mesmas.
A inspiração do poeta não nasce da
meditação contemplativa à beira da
praia, mas com o descontentamento da
superficialidade, com o adejar daqueles
que estão com o “pé no chão”, arvorando
da vida, mentindo para si mesmos.
Futilidade, soberba, aparatos de
desculpas para não ser o ser que se é ou ser
o ser que não se é.
O poeta olha para o horizonte e vê sentido na vida.
Torna seus olhos para aqueles que dizem
que vivem e é sensibilizado pela
ausência da vida nestes.