Amenidades
Agora nos prendemos aos olhares.
Rio com os olhos desde que aprendi a sorrir.
Tenho apreço pelo toque.
Mas, ser tocada já não posso.
Tocar também não.
Meus lábios sorriem.
Mascarados.
Beijar já não podem.
Se movimentam pela fala.
Contida.
Distante.
Sempre presente.
A palavra se tornou veículo.
Afago.
Afeto.
Encontro.
A companhia se estabelece.
No livro de cabeceira.
Na taça de vinho que descansa sobre a mesa.
Na chamada de vídeo de um alguém querido.
Na música que toca e preenche os vazios da casa.
Na poesia que declamo com a voz rouca e cansada.
São palavras.
Escritas.
Molhadas.
Faladas.
Cantadas.
Declamadas.
Versáteis e sempre úteis.
Palavrear é recurso.
Vasto.
Preciso.
Necessário.
Inesgotável.
É afago na alma.
É tudo e tanto no agora.
Onde os corpos não podem ir,
vão as palavras.
Cumprem um papel.
Abraçam.
Tocam.
Beijam.
Amam.
E hoje, mais do que antes:
Salvam!