Ponteio


Não me chamo Flor:

As sépalas se foram.

Restaram espinhos


Dedilho semitons

Que serpenteiam

O prefácio do dia

O epitáfio da noite

Sempre exangues


Tordilhos no pasto

Ruminam manhãs

Plasmadas de utopias

Sob acordes de viola :

Ponteio!


Engulo com raiva

Quase selvagem

O moralista, a atriz

A beata: todos sinistros

F-A-S-C-I-S-T-A-S!


Diviso entre eles

O Que fagocita

O que mata negros

O que engole o soma:

Sodoma!


Fiz um juramento

De ser mansa

Mas me tornei pagã

Deus?Há muito

Já o matei em mim


Ponteio

prantos,dores

Rastros ,veios

Marcados sob pele

Cravados sobre carne


No alto, bem no alto

Na ponta do pau-de-arara

Espera- me a coragem

Irmã do ódio

Mãe da morte


Não sobrará Messias algum

Para contar a história