HAVIA
uma mesinha de centro
carregada de bibelôs
armários trancados
embriagados de naftalina
colchas contadeiras de histórias do Paraíso
cadeiras acolchoadas em alto-relevo
uma mesa octogonal
a toalha de talagarça
arrodeada de buquês de rosas vermelhas
um cacique apontava no arco a flecha
no buffet um cowboy tentava laçar
o corcel negro e empinado no étager
santos de madeira enclausurados no oratório
sofás de palhinha
um arco na parede e dois pilares com jarros
e palmeiras em leque
a mesa farta e fumegante
e os sons de uma felicidade ameaçada
inocência e perigo
três janelas em cedro
olhavam para as plantas no pátio
as begônias
os crótons coloridos
o gato no muro espiava o peixe na pia
os urubus esperavam os restos mortais
um fogão à lenha
as pesadas portas abertas ventilavam o pensamento
recebiam visitas e notícias
as portas não avisaram sobre o vendaval iminente
12 de maio de 2004