CANSADO DIÁRIO

Escrevendo em meu diário a contestação da minha solidez imaginária que se recusa a existir ou me deixar existir,

guardo lembranças em doces fotografias emolduradas em delicados arames farpados.

Já não consigo mais me encontrar em alguns dias, sumo de mim por algumas noites, vago sem rumo pelas ruas da cidade noturna que figura-se em meus sonhos e volto ao amanhecer de forma revigorada e com a plena consciência de que tudo será passageiro, ao mesmo tempo pensando no retorno do monstro da Consciência que regressa para me torturar novamente.

Tudo bem... somos bons e velhos camaradas.

Meu eu poeta sabe que eu sou forte e que tenho capacidade o suficiente para transformar minha dor em arte, meu sofrimento em poesia e meus textos, vindos da mais singela forma de sofrimento prematuro, em composições dramáticas dignas de uma peça teatral.

Uma peça teatral onde sou diretor, figurinista, produtor, roteirista, ator e público.

Minha geração, como eu sempre prego neste diário, já não sabe mais o que lhe aguarda no dia seguinte, pois estamos fadados a carregar eternamente uma fardo que nos foi passado pela geração anterior. Eu já não sei o que me aguardo, retirando do coletivo algo que carrego para mim.

Os artistas da minha geração, reduzem-se a serem meros ecos em cavernas da ignorância, pois muitos já desistiram da luta contra o sistema que nos repudia e nos põe cada vez mais para baixo neste poço de lama ideológica.

Estou colocando para fora minhas tripas emocionais e sem esperança de alguém compreender ou sentir empatia, pois esta já não existe em nosso universo.

Não questiono sua existência, pois da sua ausência, crio.

Estou desafiando os limites que me foram postos, me equilibrando nas tortuosas linhas morais e me transformando em voz para os acontecimentos que me causam repulsa, apoio para os que me motivam e luz para aqueles que, assim como eu, se sentem à margem.

Guilherme Silva.