OS MARES
Aos dias peço clemência,
Afinal sou um que pensa
E teme pelo que vem.
A Poesia me apavora,
Pressaga senhora,
Apresenta-se o Momento, a Hora!
(Quem irá me ver partir?)
Cortei a última floresta
E um lenho fiz,
Que, desses vinte e três,
Me leve em busca do desconhecido.
Apresenta-se o Momento, a Hora!
Do que terei de me apartar?
Medo, medo...
Há tanto medo nos bastidores do belo
- Parte de mim é Frota Portuguesa,
Parte é Velho do Restelo.
Temo a ferrugem do Engenho,
O fracasso da Arte
Estar em qualquer parte me tortura.
Então me lanço, mas
range a estrutura,
Vibra, arrependida, triste.
A angústia é desonrosa
E em poesia perco o sono
- Quando aprenderei a descansar
Sob a dúvida frondosa?