Já morri muitas vezes, é verdade...

Quando sufocava minha dor,
Usando travesseiro de plumas de ganso.

No silêncio da palavra engolida a seco, 
Um teatro da lágrima disfarçada de emoção aflorada,
devoluta da dignidade (como se a afagasse).

Na bebida do último gole de sanidade, 
Envolto na garrafa do porvir,
Que nunca virou presente.

No trânsito dos sentimentos em fila dupla,
Em pista de ultrapassagem proibida,
Na alta velocidade das expectativas.

Já morri muitas vezes, sem piedade.

Com os nós que atei na queda de braço,
Por tentar aparentar fortaleza,
Mesmo na hipotrofia do músculo coronário.

No ventre da esperança: Tentativa de ninar o medo,
que, apesar de frágil, se escondia nas convicções.

Ja morri muitas vezes, é verdade.
Já morri muitas vezes, sem piedade.
Já morri muitas vezes, fatalidade.
Mas em luto, fiz campana de mim.

Já morri muitas vezes, saudade.
Na troca da pele envolta em mim.
Já, morri muitas vezes, caridade.
Sem contudo, decretar meu fim.
 
Já morri muitas vezes...
Quando velei meus vazios
(que restaram solitários),
Quando carecia de regresso,
(ao ver meus sentimentos afogados)
num mar de ilusões.
Mônica Cordeiro
Enviado por Mônica Cordeiro em 16/05/2020
Reeditado em 16/05/2020
Código do texto: T6948951
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