Inveja Branca
Quis ter o que tem, ser o que é,
Mas de Yorubá e Aymoré…
Sequer vestígio de sangue.
Quis vitiligo, pano branco e afim,
Algo que preenchesse meu Yin…
Completamente de Yang.
Além da esclera, da sola, da palma,
Quis o restante do corpo, também a alma…
Branca.
Mas no catálogo da revista Hermes,
Nunca vendeu tua epiderme…
Como peça de roupa em sarja e helanca.
Meu complexo de inferioridade,
Foi resultado de tantas meias verdades..
E mentiras inteiras.
Tu manteve o absoluto sigilo,
Sobre isso e sobre aquilo…
Mas tapou o sol com a peneira.
Quase fez minha cabeça,
Mas tenho raízes tão espessas…
Quanto os dreadlocks de Bob.
Não rezo mais a tua infâme cartilha,
Clarear a família?
Sou Ramsés II, minha dinastia é nobre.
Pensei ter só meu swing,
Pau grande, braço e anca.
Mas após Abdias e King,
Não mais inveja branca.
Mas do que nunca antes tarde,
Da missa sei mais da metade…
Iemanjá e Cristo são pretos!
Filosofia, matemática e mitos,
Foram roubados do "Egito"...
Por Pitágoras e Tales de Mileto.
Antes dos "garotos de Liverpool",
O bom e velho rock and roll…
Passou pela guitarra de Sister Rosetta.
Achou que eu não sabia, mas sei,
Ele tem rainha, não rei…
E te digo: Ela é preta!
Não é de hoje que finge,
Amputou o nariz da Esfinge…
Com o intuito de esconder meu perfil.
Movido pela dita boa inveja,
Traçou a mais torpe estratégia…
De um plano calculista e frio.
Sempre evitou meus honoráveis,
Anta Diop, Marcus Garvey…
Anastácia, Esperanza Garcia.
Mas foi tudo em vão não tem mais concerto,
"Seu filho quer ser preto…
Ah, que ironia!"