O choro encantado
Eu vi um Encantado chorar.
Banhava-se em lágrimas seu rosto,
No rosto da mãe de santo que lhe recebia.
Suas palavras emendavam as tristezas
Que despedaçavam seu coração,
No coração da mãe de santo que lhe recebia.
Ela era o motivo da copiosa cena.
Havia envelhecido.
Sua carne foi sorvida pelo tempo.
E até suas memórias se perderam.
O Encantado dizia: “Eu choro por que não podemos mais lhe curar”.
E eu respondia: “Ela é nosso tesouro”.
Mas dizia sabendo que todos os tesouros se perdem
E que as lágrimas de um Encantado anunciam desolação.
Eu vi o Encantado chorar por que amava a mãe de santo,
A quem ele fazia de Cavalo para rever o mundo em carne viva.
Ele chorava com medo de perder o corpo da mãe de santo que lhe recebia.
Naquele dia entendi que os Encantados também podem amar.