Retornar

Passado o primeiro vento:

Algumas folhas caídas,

Outras folhas sem vida,

Folhas outras retornam a terra

Mas de repente um vento novo:

Deixou-me só com meus galhos

Retorcidos em meu eu machucado

Segui tentando ter flores

Deixe que outros venham ainda das cercanias

Para que riam de minha fronde tombada

Contudo aos risonhos garanto

Que não finda a minha jornada

Pois todos aos poucos estamos em queda

Todos nos quedamos além dos planos

A cada segundo sem ver, quedamos

Voltamos para ela, para a amada terra

No vazio do dia que se aparenta co’a dor

Eu vi parentes me sepultarem com toda a descrença

Como se também não retornassem a mesma terra

Perdi meus pés descalços, morri ainda criança

Renovarei minha juventude ao cair

Devolvendo-me ao berço onde nasci

Domino o saber do que há além da queda

Pois crescer já é preparar-se para ela

Imagina quantas folhas viram páginas

Quantas páginas viram versos

Quantos versos transformam os seres

Quantos deixam de nada ser

Sem nada ser me tornarei um novo verso

Enfim que o tombo não seja finalidade ou fim

Nem belo, nem perverso

Como saber sem jamais cair?

Embora essa balançada vida

Seja ao mesmo qualquer coisa de sofrida

Vi videiras crescendo nas minhas copas

Outras plantas cresceram a minha sombra

Sempre trabalhamos sol a sol

Para a noite repousar no orvalho

Agora serei o alimento vário

De quem me me foi tão necessário

Lopes Neto
Enviado por Lopes Neto em 13/05/2020
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