Insídias do tempo (ela não veio me ver)

Insídias do tempo

Parecem insídias do tempo:

Estive ontem

Onde agora tu estás.

Deitei sobre o gramado

De Nossa árvore, solitária

A criar texturas do céu.

Sôfregas plenitudes em mim

A criar poemas dos centímetros

De teu corpo, mechas do teu cabelo.

Sob aqueles recortes azul-celestes,

A favor do vento oeste

Já tecia meu último poema para ti

Em corredores, em salas vazias

Ainda via projeções fantasmagóricas,

Suplicantes filmes de nós dois.

Vozes de um cinema antigo:

Impressões bicolores da vida

que já não temos mais

Passos, ruídos e ecos

Povoavam meus sentidos,

E meu peito era um pêndulo

Oscilando entre o frenesi

E o grito das misérias.

Você não veio! Eu não quis...

Tantos templos tétricos

Tornados totalmente tentadores:

Eu os via agora! ...e sofria.

Nenhuma lei ou verdade

senão o tempo de algumas horas

Que novamente nos afastou

Foi capaz de criar esta impressão:

Fui o primeiro a Tocar tua sombra,

Pisar em vestígios, no teu passado.

Sim, eu te sentia tanto, a ponto

De rasgar as grades do corpo

Á rondar teus passos: santuários!

Quão bizarro é esse sentimento:

Não pede por beijos, mas sim olhares,

Não deseja toques, apenas palavras.

Eram extremas as sensações,

Alucinógenas por desejo,

A me lançar nas ondas gigantes

Oriundas de mim mesmo e

Da lembrança de teu conforto

Nos momentos que chorei.

Extremamente delicada era a linha

(Completamente quimérica também)

Que ontem separou nossos olhares.

Se alguma sensação além do desejo

Fosse capaz de vencer o impossível

trazendo teus olhos até o jardim,

diante de minha monstruosa apreensão

nada seria surpresa, apenas meu

maior prazer incontido ganhando vida.

Nuvens apressadas e distantes.

Eu ainda deitado procurando no céu

Uma frase definitivamente perfeita

Lá havia: azul e branco ofuscante.

Os raios incidindo na flor ao meu lado

A resposta de minhas divagações:

“Belos, se mais fossem teus olhos,

eu, em anseios indomáveis

mataria na raiz do meu peito

tuas lembranças inefáveis”

Guizos
Enviado por Guizos em 18/03/2005
Código do texto: T6946