Vinhos e versos, versos e vinhos

Vinhos e versos, versos e vinhos

E mais uma vez, quando a escuridão impenetrável da noite consome todo o céu, estou sentado a janela a observar tudo aquilo que da sensualidade do desconhecido faz-me réu,

Com livros nas mãos e os pensamentos que são inúmeros ao finito, ao meu lado está minha taça com um vinho caro que comprei e que hoje faz-me companhia.

Cada gole que aguça minha boca de meu corpo, em segundos inseparáveis, companheiros de uma noite longa,

A cada bebida, uma estrela surge no céu, meu corpo esquenta na companhia do que há em minhas mãos,

E quanto mais leio os versos que ali contém, meu corpo se esmera em uma realidade que não me convém, que não se acumula,

Que tanto come ou escuta, numa noite fria de setembro, escuto a chuva cair e parece-me palavras a serem declaradas pelos céus a terra, e seguem seu rumo frenético até a última palavra ser declarada.

Ninguém escapa da chuva fria de setembro, como numa poesia que se acaba mas não é contida em palavras,

Numa poltrona a janela de reflexos que permite-me enxergar as perfeições viva,

Não sei se a essa visão contemplo ou se ela contempla o meu ver,

Ou, nada se contempla, tudo se molda em beleza para caber em uma fotografia que logo será um momento eternamente parado.

Mas logo escuto um bater, e dou-me conta que é o relógio que me chama a realidade, numa noite que transformou-se em milésimos,

Fecho meu livro e tomo o último vinho, tão incrivelmente saboroso e de um cheiro indescritível,

O cheiro que emana do livro junta-se ao sabor do vinho e a noite como amigos,

Ou... Lembro-me do tempo outra vez, despeço-me e agradeço a companhia, convidando novamente para voltarem as onze e meia, quando o mundo se cala e posso finalmente escutar.

Maria Fernanda de Araújo Dantas
Enviado por Maria Fernanda de Araújo Dantas em 13/05/2020
Código do texto: T6945733
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