ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Quero ter a fé dos santos
Quero apagar-me de razões
E acreditar no impossível
Ver milagres é pra quem
Tem olhos de sonhos
E resiste da realidade
Ver milagres é pra gente
Que tem a poesia na alma
Mas é a realidade que geme
No quarto ao lado
Geme no corpo cansado
Que dói ao ser tocado
Geme presa nesse corpo
Orbitando no espaço
E perdida no tempo
Sendo um fiapo do que foi
Uma sombra de si
Na inconsciência do nada
Um vulto que respira e chora
E às vezes até sorri
Mas sem saber por que
Onde está aquela mulher
Que tocava um órgão
Elegante, mãos lépidas
ouvidos atentos a cada nota
Por onde anda aquela
Que assumia compromissos
Andava por aí
Abria portas
Pagava contas
Escrevia cartas
Oculta (por certo) nessa casca
Já tão frágil?
Incógnita no olhar perdido?
Presa em uma mente confusa?
Nesse labirinto esquisito
Que devora memórias
E se agrava com o tempo
É preciso entender os propósitos
É preciso acreditar
Aviões caem
Crianças são assassinadas
Muitos morrem de fome
Esse é o mundo
Quero ter a fé dos santos...