Eu, ansiedade
Quem a vê chegar assim no trabalho
De sorriso aberto e batom vermelho
Não sabe quantas batalhas travou
Ainda em casa, frente ao espelho.
Da noite passada quase em claro
Sustentada pela sua mente inquieta
Sobrou um par de olhos inchados
Disfarçados pela pintura correta.
Antes mesmo de sair de casa
Engaveta todos os seus medos
Vai ter um dia de gente normal
Mantendo a ansiedade em segredo.
Olhando em seus olhos atrás das lentes
Ninguém imagina o que acontece
No peito, um coração que perde o ritmo
Enquanto um lado do rosto adormece
Procura lembrar-se de respirar fundo
Enquanto ajeita a bagunça da mesa
Pra ver se consegue ajeitar-se por dentro
Tarefa pra qual lhe falta destreza
Sente medo enquanto respira ofegante
Mas se a perguntar, não irá responder
Pois o medo não tem endereço nem nome
Espera o que ainda vai acontecer.
E se vai, nem ela sabe
Mas se adianta pra não ser surpreendida
E assim o seu dia inteiro passa
Como quem vive toda uma vida.
Pelo corpo, dores musculares
Não diagnosticáveis em um raio x
Músculos retraídos, tendões rígidos
Mas sobre a pele não há cicatriz
E há quem diga que é exagero
Um ou outro se mostra descrente
Já que o rosto não perde o sorriso
Mesmo temendo tragédia iminente.
E assim mais um dia na vida da atriz
Antagonista da sua própria história
Chega em casa e prepara o texto
Pra amanhã cedo já estar na memória.
Jogada na cama com pés calçados
Um prazer estranho de falsa liberdade
De quem não se livra nem da sua mente
Brinda e flerta com a própria ansiedade.