Sempre fui rueiro
Sempre fui rueiro,
De andar o dia inteiro,
De encontrar os amigos
E correr pros perigos.
Sempre fui rueiro,
Fui até trapaceiro,
De inventar atalho
Pra fugir do trabalho.
Sempre fui rueiro.
Se fui hospedeiro,
Foi de gente inquieta,
Amigo da rua, na certa.
Sempre fui rueiro,
Muito bom timoneiro,
A indicar o caminho,
Da pinga, do vinho.
Sempre fui rueiro,
Tive bicho-carpinteiro,
Na escola, sem receio,
Eu esticava o recreio.
Sempre fui rueiro,
Acho que bom converseiro,
Amante da piada,
E da boa gargalhada.
Sempre fui rueiro,
Rua é o melhor cativeiro,
Quer em dia inglório,
Quer na tristeza de velório.
Sempre fui rueiro,
Té pra buscar dinheiro.
Foi, sim, meu senhor,
Fui um bom cobrador.
Hoje fui pra rua,
Mas a rua estava nua,
Mais de alegria que de gente.
Mascarei a minha alma,
Minha alma de rueiro,
E me faço assim caseiro,
Por mim e pelo mundo inteiro.