REPENSAR

REPENSAR

No claustro já não penso

Repenso

A lua é cheia

Gostaria de morar

No mundo da lua

Preferencialmente cheia

Mas não

Moro no mundo da terra

Ou melhor d’água

Salgada ou doce

Nestes tempos

Mais salgada que doce

Escorrendo por faces

Limitadas por máscaras

Que cobrem personagens

Nunca dantes benvindos

Lembram bandidos

Que assaltam

Que roubam

Que matam

Vidas e tantos bens

Abraços, beijos, afagos

Sons trágicos de fagotes

De óperas bufas

Que sobrevivem respirando

Ares contaminados

De ignorância e desfaçatez

Montados em cavalos mecânicos

Que já não levam a alhures

Tampouco a augúrios de felicidade

Em qualquer cidade

Tudo é um sem paz

Embora haja silêncio

Mas é silêncio mortal

Àqueles que sonhavam imortalidade

Vão pouco a pouco

Sendo tragados pelo invisível

Passando à invisibilidade

Só mais um número

Única certeza agora tão próxima e visível

Repensar é preciso

Fazer da essência a prioridade

Olhar em olhos sem desviar

Tocar em mãos sem rechaçar

Cooperar solidarizar

Não mais deixar apequenar-se

Pelo desenfreado ter

Tão fugaz tão reles

Tão inumano

Visto que desumano virou praxe

Num mundo finado

De dádivas desperdiçadas

Em nome do progresso

Traduzido em retrocesso

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 09/05/2020
Código do texto: T6941889
Classificação de conteúdo: seguro