REPENSAR
REPENSAR
No claustro já não penso
Repenso
A lua é cheia
Gostaria de morar
No mundo da lua
Preferencialmente cheia
Mas não
Moro no mundo da terra
Ou melhor d’água
Salgada ou doce
Nestes tempos
Mais salgada que doce
Escorrendo por faces
Limitadas por máscaras
Que cobrem personagens
Nunca dantes benvindos
Lembram bandidos
Que assaltam
Que roubam
Que matam
Vidas e tantos bens
Abraços, beijos, afagos
Sons trágicos de fagotes
De óperas bufas
Que sobrevivem respirando
Ares contaminados
De ignorância e desfaçatez
Montados em cavalos mecânicos
Que já não levam a alhures
Tampouco a augúrios de felicidade
Em qualquer cidade
Tudo é um sem paz
Embora haja silêncio
Mas é silêncio mortal
Àqueles que sonhavam imortalidade
Vão pouco a pouco
Sendo tragados pelo invisível
Passando à invisibilidade
Só mais um número
Única certeza agora tão próxima e visível
Repensar é preciso
Fazer da essência a prioridade
Olhar em olhos sem desviar
Tocar em mãos sem rechaçar
Cooperar solidarizar
Não mais deixar apequenar-se
Pelo desenfreado ter
Tão fugaz tão reles
Tão inumano
Visto que desumano virou praxe
Num mundo finado
De dádivas desperdiçadas
Em nome do progresso
Traduzido em retrocesso