Poetas da madrugada
poetas da madrugada
acendam a vela
tomem um trago
olhem pela janela
seus poemas
estão lá
entre demônios e anjos,
não chegam ao céu
nem ao inferno
eles estão lá
na paisagem
que criaram
na vertigem
que vocês incitaram
escritos na janela
onde se olha para dentro
dentro da casa
da poesia que habitam
no jardim da manhã
cantam pássaros
e à noite passam morcegos
e quantas estrelas
há nesse infinito
que não sabemos medir
e quantas palavras
pra se falar da dor
multiplicadas para
falarem de amor
há dores no amor
há amor nas dores
e há namoradores
namoradeiras
nas janelas de Ouro Preto
elas se debruçam
feitas de argila
Como se a gente
fosse mesmo de barro
encantadas
pelos poetas
que cantaram
inconfidências
que é virar a cara
pro Estado ou soberano
e esses merecem tanto
desde lá até aqui
mas a gente ainda sorri
a vida é engraçada
porque os amigos se encontram
porque amantes se amam
e sozinho também se é
definam o que quiserem
digam o que é nascer
morrer já é mais complicado
carta fora do baralho
a gente ainda não quer ser
a dúvida do que vem depois
chuva ou sol
após madrugada
ou uma cama arrumada
pra sonhar um sonho bom
talvez role até um som
ou dormir e mais nada.