SENTINDO NA PELE
CAPÍTULO I – O ÓRFÃO
Um menino morava sozinho.
órfão de seus queridos pais.
Muitas vezes ele, coitadinho,
Enfrentava só seus tristes ais.
Para suavizar a dor e a solidão,
O guri sonha em ter um amigo.
Pensou bastante numa solução
que não o expusesse ao perigo.
Morando perto a uma bela mata
O plano é ir lá em busca de amizade,
Mas quem seria a criatura exata?
Uma coisa é certa: não será gente.
As pessoas lhe deram a infelicidade
Matando seus pais barbaramente.
CAPÍTULO II – A ARAPUCA
Pondo para funcionar sua cuca
O moleque pega gravetos e sisal.
Constrói uma eficiente arapuca
Para pegar um pequeno animal.
Na lista do seu pensamento há:
Hamster, coelho, tartaruga, furão,
Papagaio, cacatua, chinchila, preá...
Caminhou rumo a floresta então.
Pôs a arapuca no lugar adequado
E ficou aguardando com paciência
Num esconderijo pra não ser notado.
A armadilha infantil funciona logo.
Será que terminou a abstinência?
Espero que sim é o que eu rogo.
CAPÍTULO III – A PRESA
O menino pega a sua presa.
Olha para ela com carinho.
Você porá fim a minha tristeza.
Sou seu novo amigo, passarinho.
Uma gaiola agora será seu lar.
Darei água, comida e proteção;
Todos os dias o ouvirei cantar;
Minha casa não terá mais solidão.
Por favor, não invente adoecer.
Não tenho grana para o veterinário,
Porque faço o suficiente para comer.
Sua gaiola, garanto, não ficará suja.
Você terá um trato extraordinário
E que seu canto na casa sobrepuja.
CAPÍTULO IV – PRISONEIRO DE PRIMEIRA VIAGEM
O canto do pássaro está diferente.
Não é igual ao canto dele na mata.
Ainda assim o som canoro pra gente
ao ouvi-lo um prazer nos arrebata.
A ave passa o dia todo no poleiro.
Sai de lá só em caso de necessidade
Alimentar e se hidratar, o sorrateiro.
Tem alpiste e água em abundância.
A gaiola é enorme e muito arejada
E a ave de mim mantem distância,
Mas eu não importo com isso não.
O pássaro teve a sua vida mudada,
Logo precisa um prazo à adaptação.
CAPÍTULO V – MC DUNINHO
Queria dar um nome ao Passarinho.
Como é difícil por nome em alguém!
O nome que dei a ave é MC Duninho
Pois ninho é outro lar que as aves têm.
A avezinha não fica mais só no poleiro.
Agora, MC Duninho voa por toda gaiola.
Também o canto dele é mais corriqueiro
Agora sim. A presença dele me consola
Não sabia que ave mudava o seu canto
Quando ela era retirada da floresta.
Todavia continua tão bonito quanto...
Em relação a mim continua afastado.
Seremos amigos! O que me atesta?
O amor que entre nós será formado.
CAPÍTULO VI – PANDEMIA
Dois meses depois surgiu uma pandemia.
A doença era transmitida via respiratória.
Desde então, sair de casa ninguém poderia...
Jamais aconteceu algo assim na história.
A doença causava morte só à raça humana.
Uma vez contraída, a vida e ceifada sem dó.
Não há remédio, nem vacina. De forma tirana
Levava pai, mãe, filho, tia, primo, avô e avó.
Para barrar o mal, a segregação social foi a saída
Encontrada para o mundo não virar cemitério.
Foram mantidos os serviços essenciais a vida.
Excessos de higienes tornaram-se obrigatórias;
igualmente máscaras e viver de jeito mais sério.
Os homens veem quão suas vidas são transitórias.
CAPÍTULO VII – AJUDA
O garoto ficou enclausurado em sua morada.
Não tinha terreiro. Havia somente uma janela,
Um pequeno cômodo e uma porta, mais nada.
A porta de compensado dava acesso a uma ruela.
Voluntários cristãos da comunidade levavam a ele
Roupas usadas, cesta básica, máscara, álcool gel,
Brinquedo, livro e palavras cruzadas. Ah! Naquele
Momento também um pouco de oração ao céu.
Pedem fim da pandemia, paz e saúde ao menino,
E que a humanidade aprenda com esse flagelo,
Ser piedoso, solidário e volta-se ao Pai Divino.
Não se apegue as coisas materiais e ao dinheiro
Acentuando que para Deus o que de fato é belo
É amá-Lo e ao próximo como irmão verdadeiro.
CAPÍTULO VIII – IGUAL AO PÁSSARO
O infante, no décimo quinto dia da quarentena,
Estava sentindo a vida chatérrima, sem graça.
Olhou para o lado e reparou no amigo de pena.
Viu que a vida da ave também era uma desgraça.
Enfiou a mão na gaiola e pegou MC Duninho.
Raramente dava a avezinha esse tratamento.
Percebeu o bicho assustado, fez um carinho
Pra acalmá-lo. Olhou-o com arrependimento.
Aprisionei um animal sem crime, inocente.
Oh! Meu Deus! Que monstro cruel eu sou!
Agora sei o porquê do seu canto diferente!
Agora entendo o motivo dele fugir de mim.
Comunicar comigo desse mal ele até tentou...
Não o entendi! Como ter amigo um ser ruim?
CAPÍTULO IX – NAS ASAS DA LIBERDADE
o canto do MC Duninho ser diferente aqui
Do que cantava na floresta, hoje eu sei.
Na mata o gorjeio era de felicidade, senti.
Já na gaiola, o canto era só belo, Observei.
Passarinho, vou lhe devolver a liberdade.
Pode voar. Você não é mais prisioneiro.
Perdoa no seu coração a minha maldade
Não serei mais um menino passarinheiro.
MC Duninho não cabe em si de felicidade.
Ao sair da mão do menino, voa a casa toda,
Voa ao redor do menino com naturalidade.
A gaiola nunca, jamais, será a sua moradia.
A janela está bem aberta. A mata o acomoda.
A liberdade tornou inesquecível aquele dia.
CAPÍTULO X – DE VOLTA COM OS AMIGOS
Com a liberdade dada à avezinha MC Duninho,
O garoto volta a ter a solidão como “amiga”.
Torna a ficar descolorido seu duro caminho.
Viverá desse jeito, pois a vida assim o obriga.
O menino acorda com alguém batendo à janela.
Levanta para ver quem é e tem uma surpresa.
O perturbador é o ex-prisioneiro. Que coisa bela!
Veio visitá-los e trouxe os amigos, com certeza.
A criança abriu a janela. Os passarinhos entraram.
A solidão matinal foi enxotada pela felicidade
Porque as avezinhas a casa do garoto alegraram.
O fato se repetiu durante todo o isolamento.
Na parte do dia, os pássaros traziam festividade;
À noite, o garoto se nutria do contentamento.
CAPÍTULO XI – A LIBERDADE DO AMOR
O menino convive agora com um novo medo:
Quando terminar tudo isso, que será de mim?
Os passarinhos continuarão me visitando?...
Sem eles minha vida ficará ainda mais ruim.
Os animais também são muito inteligentes.
Basta observá-los pra entender seus recados.
Quando nós ficamos juntos somos contentes,
Primeiros passos para nos sentirmos amados.
Quer saber, o medo em mim é uma bobagem.
Onde amor reina não há desejo de separação.
Com pandemia ou sem ela, é assim que eles agem.
Meus amiguinhos alados continuarão vindo,
Visto que a flor da amizade em nosso coração
Estará infinita e eternamente a nós se abrindo.
O FILHO DA POETISA