Entendimentos
Qualquer coisa que eu tenha dito
Se perdeu levada pelo vento
E qualquer presença minha
Foi varrida pelas estradas.
Se nem minha sombra posso acompanhar
Quem dirá meus pensamentos?
A verdade é que cheguei não sei onde.
Perdoem-me os planos e seus arquitetos
Perdoem-me as peças do tabuleiro
Mas desconheço as regras do jogo.
Contudo, para a surpresa de meus olhos,
Ainda que sem destino e sem rumos
Vejo as estrelas e entendo tudo.
O mistério do meu caminho
Que vai se revelando lentamente
É banhado pela lua, que acalenta
Na sua serenidade imensa.
Lua das marés, dos amores e das lembranças
Onde andarão minhas certezas?
Sinto-me tão leve de ausências…
Desconfio que, no plano das coisas eternas,
Na essência de tudo o que chamam Deus
Descobriremos, talvez tarde demais,
Que não carecemos de tantos entendimentos.
O milagre da beleza do mundo,
Por onde flutuo distraído
É silencioso, sutil e delicado
Como os matizes do céu de outono
Como rir até doerem as bochechas
Como olhos nos olhos de dois namorados.
A vida possível, diária e banal.
A vida cheia de vida.