Sobre Nuvens de Luto
Quando deixei de ser empírico
passei a viajar diariamente,
sobre o dorso de um cavalo
em forma de nuvens que
voam sem direção para o
interior desconhecido da
minha alma.
O poeta consegue ouvir
o diálogo da rosa com a
margarida, ambas criticam
os homens pragmáticos que
desprezam o poema e ignoram
o odor matutino das rosas que
é capaz de libertar os homens
do imediatismo tolo.
Um Bem-te-vi quebra a quietude
do Outono de maio vestido de luto,
um fantasma invisível ceifa vidas
sob o olhar mudo da Ciência soberana,
o poeta menino assiste o mundo
isolado na quarentena eterna que
entrará para a história. Um pardal
alheio ao noticiário letal pega uma
migalha de pão lançado ao chão e
voa em direção a mangueira solitária
da rua deserta. A pandemia será eterna?