EU SOU A POESIA
Eu sou a poesia
atenta, alerta, espreita
Cansei de falar
de amores impossíveis
De ficar emoldurada
Esquecida em prateleiras
Ao alcance de poucos
Quero falar de lutas
Estar na boca do povo
Onde menos se imagina
Quero ser uma canção
Não de ninar,
Mas de acordar os homens
Quero o meu verso gasto
De tanto falado
De tanto discutido
Quero minha página suja
De muito folhear
A mão daquele que trabalha
Quero estar nas mãos
Da molecada
Do tiozinho que cata latinha
Da gente humilde
Quero ser a voz de quem
Não teve vez
Quero fazer pensar
Quero incomodar
Colocar mil pulgas
atrás de orelhas
Quero ser o espelho
Em que a miséria
Pela primeira vez,
Possa se enxergar
E ver que feio
É abaixar a cabeça
E sentir inferior
Quero ser mola
Propulsora, sedutora
Arma contra ignorância
Antídoto contra o ódio
Se você ainda não me conhece
Eu sou a poesia!