PRECIOSIDADES (210)
C O N V I V Ê N C I A
Dois homens sou eu - e não apenas um:
o verdadeiro, o real, o que saiu
das sábias mãos de Deus - simples, comum,
cheio de amor e de rancor vazio . . .
E este outro - que bem sei não é nenhum -
é o falso e o vão, que o mundo construiu,
e em vez do halo do bem, traz o debrum
da angústia ! E essa mudança ninguém viu !
Na oposição dos dois padeço e vivo:
secreto e luminoso é o primeiro,
e o falso é bruma só, mas ostensivo . . .
E eis a tragédia que me dominou:
sempre fui o que Deus me fez primeiro,
e o mundo após me fez o que não sou !