Olheiro
As asas dos anjos
Do futuro
Embora passe os anos
Nebulosos e obtusos
Queria poder estar
Fora do tempo
E recolher-me para deitar
Ver o universo isento
Mas daqui na minha
Na minha íntegra finitude
Só existe uma reta, uma linha
Vi as penas voando, lá se foi a juventude
Agora tenho que lidar
Com medos sem rosto
Quando a primeira findar
Nascerá um inverno de desgosto
Embora eu lute a vida é assim
De veredas em recantos
Escuros e um destino sem fim
De lindas borboletas e também
Desencantos
Hei de ser por mim mesmo
Chama que arde, um fogo
Lentamente esse esmo
Em assombro se vai como sopro
Quando eu luto pelas recurvas
Do meu ser inferior e malogro
Me vejo em partes miúdas
Para tentar achar qual estava
Ali dentro de mim
Para que o olheiro as sentisse
E me refizesse do início ao fim