alguma verdade

turva, curva, queda

cimento,

me quebrei todo nessa

gangorra, vivo como

quem dois, sem a ponte

que os pacifique, vivo

como quem, entre dois

barcos, se esforça para

não se afogar, não me e estranho

esses rostos, mesmo sabendo

que não cabem na mesa de jantar,

sequer na padaria da praça

da feira, ando, ardo, viver

é uma aventura das mais vulneráveis,

o banquinho da praça já não

conversa com os passantes,

o trem se esforçando, mas patinando

em trilho de gelo, mal sei que horas

são essas, a rua deserta nos conta

do mundo, da incerteza que retalha

a carne, vivo como quem é comida

da máquina que um dia sonhei,

como quem é assaltado em sua própria

casa, que um dia beijou as escamas céu,

turvo, ardo, essa noite, noite que me navega

desde muito cedo, agora que me

dou conta, mas parece tarde pra

te contar alguma verdade.