SOB O DEBOCHE DAS HORAS...

Todas as doenças fluíam soltas

Como a brisa

Que passa invisível

Cravejando nos idos corridos

Seus insensíveis traços de existência.

Ah...para o conforto das utopias das eternidades criadas

Ali existia todo um arsenal armado

Como um fuzil mirado a esmo

A atirar sobre todos os estragos indesejáveis

Nosologias nos corpos e nas almas.

Tudo aparentemente catalogado

Nos indiscutíveis compêndios dos grandes.

Ali havia universidades, hipóteses, teses,

Havia doutores e pós doutores

De notas abrilhantadas nas sociedades do conhecimento

Havia os "Phds" e os "fellows" de todos os tempos...

Sem nunca catalogarem o próprio tempo

Doutorados na arrogância de saber o que não se sabe

Os que tudo tudo vencem, tudo ensinam a se vencer.

Mas...

Quantas doenças...a parte dos livros.

Havia mil doutas palavras vazadas na mídia,

Todos os conceitos...

Interpretados a esmo dos nadas

Que brilhantemente soavam dentre os avanços

Da pesquisa, da ciência, dos microscópicos.

Havia certezas incertas

Dentre as lentes ultra capacitadas

Que adentram e agigantam o interior de todas as células

Temporais

Reais e místicas!

A especular a vida, a origem, todos os porquês

Provisórios aos inúmeros "por quês?" inexplicáveis.

Quantas doenças invisíveis...gênese de tantas outras.

Ali havia a promessa da vida eterna

A esperança e a fé desprezadas

No ainda inacessível ao Homem.

Quem sabe um dia?

Ali havia apenas o consolo

Da vaidade do tudo se explicar e curar...

Sem o fundamental se saber

Nem entender.

Ali me havia a ilusão da prorrogação do que finda...

inexoravelmente.

Sem nos dar explicações.

Então,

Às vezes eu dava risada da minha insistência aprendida

em existir e os fazer existir.

Dessas vaidades das quais a Humanidade não se desgarra nunca.

Nem nas horas professoras...

Houve o tempo em que o tempo chegou.

Era a pior das doenças.

Nunca há bom prognóstico para o tempo.

Ali eu aprendi sem o arsenal da farmacopeia:

Tratava-se dum visitante sorrateiro...que entra sem pedir licença às existências,

A desafiar a vida e todos seus esforços científicos frustros

De se conter a morte.

Ali eu tinha todo o arsenal, então, mais uma vez, eu tentei

Tentei já sabendo estar vencida.

Ministrei mais um remédio

Só para cumprir o juramento

E amenizar a minha dor

A de prescrever o tempo.

Só não sabia (porque nunca me ensinaram)

O que se usar para a eficácia

De se segurar o altivo relógio biológico

A doença metafísica em metalinguagem

Que grita os fins de todas as existências:

O tempo, patologia absoluta e incurável

Que que corre...a parecer estática

E que se ri em gargalhada

De todas as teses inúteis,

Bem como só passa depois de debochar

De tudo...e de todos.