ANTIDIÁRIOS DE ABRIL XXIX
Ouço este auxílio luxuoso de um vendaval cítrico de inverno,
no frescor do outono lento que corre por entre as vértebras,
feito se a medula óssea fosse cortada sob a lâmina da gilete.
O chope repousa no mármore nublado que o raio atravessa
na vitrine da tulipa e na vertigem de uma nova luz amarela.
Sou da repetição que ambiciona revelar um algo ou um nada
sobre a linha ultratênue da teimosia. Da falta do que se deve.
Vejo aqui e ali. Dou a volta na sala. Ando quase desanimado,
pois não desatei o nó do vírus e tenho somente um astrolábio
cego da carpintaria da constelação que orna esta noite ácida.
— Há labaredas vermelhas no céu e um fogo azul na palavra.