Paisagem Contemporânea
Tarde de outono,
o que faremos com os sonhos de ontem?
Somos agora como os quadros que admiramos,
uma beleza que repousa entre as paredes
e que traz latente em si os sonhos do mundo
por corações esfacelados no amparo da indiferença.
Luz da tarde,
meus olhos te bebem em ofício diário para quê?
Meu ócio é agora um barco ébrio vagando a esmo
em mil notícias amargas que me consomem,
A rosa dos ventos de meus exercícios de inutilidades
está manchada de números mortos
que eu acreditava serem pessoas.
Brisa da noite,
de que serve teu beijo em meu rosto esta noite?
Os eflúvios florais de teu hálito não mais me consolam,
mas me remetem ao tempo de te compartilhar
com o calor de outros corpos que te procuravam
para fugir da fuligem dos grandes centros;
Agora respirar tornou-se privilégio.
Campos verdes,
tua imensidão tornou-se uma liberdade presa na janela,
teu horizonte uma representação de futuro do passado,
teu verde uma esperança comida pelo Gado;
Agora diariamente centenas de nós somos plantados em ti
e a morte é o espetáculo aplaudido em teus campos
por arcabouços que eu acreditava serem humanos.