ENTREMEIOS
Temos medo no entanto caminhamos
O perigo mora até em nossa saliva
E crianças não correm nas calçadas
É um tempo de máscaras
Tempo de homens mascarados
E o artista é aquele que aprendeu
A sorrir com os olhos
É tempo de contar os mortos
Como contássemos dias
O banal que se tornou letal
O tempo que se tornou linguagem
É tempo de verter lágrimas
E corrermos riscos
Tempo de valas comuns
Tempo de não poder velar
Nas reticências de nosso silêncio
Vamos traduzindo as incertezas
É tempo de desassossego
Tempo em que fantasmas
Perderam seus assombros
Porque a realidade é mais terrível
E as películas estão no jornal
Mas nos entremeios desse medo
Há o lirismo de um pôr do sol