SORRISO ESTRANHO

Estava novamente naquela espelunca.

Quando percebeu estava lá, buscando

algo que nunca encontrara e já sem

saber se realmente desejava encontrar.

Não sabia quanto tempo estava largado ali.

Talvez nunca tivesse saído daquela mesa ensebada.

O copo também estava sujo, mesmo assim

serviu mais um trago de algum destilado barato.

A prateleira com as bebidas enfileiradas parecia uma enorme

boca sorrindo com dentes coloridos e encavalados.

Acendeu mais um cigarro e ao tragar sentiu a

fumaça queimar no esôfago e estourar uma ânsia imediata.

Tossiu e sangrou. Estava partindo.

O olhar embaralhado ainda pôde notar a boca gigante

com dentes de vidro aproximar-se para mastigar seu crânio.

Paolo Christ
Enviado por Paolo Christ em 25/04/2020
Reeditado em 17/06/2020
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