A arte de varrer o chão

Começo por um cômodo

Conduzo até o limiar

Troco de pincel

Encaro este retrato

Seu delírio

E a maioria não vê

Afasto uma cadeira

Pratico um exercício

Com mãos abstratas

Torno limpo este chão

O mundo sob os pés

Imparcial e opaco

Arrasto um fogão

Uma geladeira

Uma cama, um sofá

Velhas lembranças

Espelhadas no piso

Moças esquecidas

Paisagens na cabeça

Reflexos de prédios limpos

Apartamentos sujos

Carros angustiados

Luas pisadas

Gosto de terra

Raro é sonhar

Limpo ou sujo

De coração puro

Varri as moças

Nem notei

A melancolia, nem vi

Meu amor esteve aqui

Extremado

Varrido e lavado

Daribe Simbar
Enviado por Daribe Simbar em 23/04/2020
Reeditado em 02/10/2020
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