cem mil mortes não são iguais a uma

cem mil mortes não são iguais a uma

quando a morte te pega no meio

no olho da rua

e tu pensas: que tranco ela me encontrou nua

e a mina que tá morta, aquela ali que é uma,

podia ser a sua

podia ser morte da vizinha, da minha tia, daquela gata da bahia, de uma criança ainda pura

e você não mais sorri

por que enfim

aquela uma morte te levou a pensar na tua

cem mil mortes não são iguais a uma

quando a morte te pega em cheio

quando é tão próxima

é a do mano, o enfermeiro, que brincou com nós na rua.

que roubou bandeira junto com a gente e desfilou inteiro na vai vai e na mangueira ,

e gritou pro mundo como se fosse o primeiro:

eu quero é ser feliz o ano inteiro, de abril até janeiro

e você não mais sorri

porque enfim

aquela uma morte te levou a pensar na tua

Mauricio Miele
Enviado por Mauricio Miele em 22/04/2020
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