cem mil mortes não são iguais a uma
cem mil mortes não são iguais a uma
quando a morte te pega no meio
no olho da rua
e tu pensas: que tranco ela me encontrou nua
e a mina que tá morta, aquela ali que é uma,
podia ser a sua
podia ser morte da vizinha, da minha tia, daquela gata da bahia, de uma criança ainda pura
e você não mais sorri
por que enfim
aquela uma morte te levou a pensar na tua
cem mil mortes não são iguais a uma
quando a morte te pega em cheio
quando é tão próxima
é a do mano, o enfermeiro, que brincou com nós na rua.
que roubou bandeira junto com a gente e desfilou inteiro na vai vai e na mangueira ,
e gritou pro mundo como se fosse o primeiro:
eu quero é ser feliz o ano inteiro, de abril até janeiro
e você não mais sorri
porque enfim
aquela uma morte te levou a pensar na tua